quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Que professor(a) sou eu... (semana 1)

Unidade 1 - Interdisciplinaridade, transversalidade e construção de valores
Disciplina: Educação e construção de valores
Semana 1 (05 à 11/09)

" Toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras"  (Jean Piaget)
A ideia de moralidade trabalhada por Piaget é questionável quando analisada isoladamente, já que nos seus estudos uma pessoa moral é aquela que segue as regras da sociedade, sem, neste caso, levar em consideração a composição dessas normas.
Por isso, é necessário entender um pouco do que Jean Piaget chama de processo de desenvolvimento, tal "teoria" analisa o nível autonomia de um indivíduo, através dos seguintes estados:

- Anomia: ausência de regras, exemplo: crianças recém-nascidas que não possuem horários ou "regras".

- HETEROnomia: vários "focos" de regras, exemplo: família, religião, escola, entre outro, ou seja, as regras surgem de várias instituições.

- AUTOnomia: regras "cumpridas" a partir de si mesmo, isso quer dizer, que as regras existem, mas não são impostas e são respeitadas de acordo com o próprio sujeito

Dentro deste processo, o grau a ser atingido seria o da autonomia, no qual as relações seriam desenvolvidas a partir da cooperação e do respeito mútuo, mas a grande questão aqui levantada é que boa parte das crianças ficariam por muito tempo estagnadas na heteronomia, vivenciando relações de coação e respeito unilateral, e se tornando sujeitos passivos, dependentes ou "rebeldes".

Segundo Piaget a diminuição do egocentrismo é chave para alcançar tal autonomia. Mas a prática é tão simples quanto parece? Como fica a realidade complexa dessas crianças? Como está estruturada física, pedagógica e emocional das instituições escolares? Como estão os nossos professores? 






Estudos longitudinais desenvolvidos pelo Profº Ulisses Araújo buscam formas de intervenção mais realistas, levantando assim, alguns aspectos que são relevantes para a prática de ambientes escolares cooperativos. São eles:

- Conteúdos escolares: a inserção transversal e interdisciplinar de temáticas condizentes a realidade complexa vivida pelos alunos.

- Metodologia das aulas: construção coletiva a partir de aulas dinâmicas com atividades reflexivas, conceituais concretas e práticas experienciais.

- Os valores dos membros da comunidade escolar: encontrar os valores desejáveis desta comunidade para assim fazer parte efetiva do projeto pedagógico.

- Relações interpessoais: respeito, autoridade e admiração. Sendo a admiração a condição para o respeito, pois podemos admirar tanto quem amamos como quem nos oprime.

- Auto-estima: trata-se da auto-imagem que cada ser humano constrói de si mesmo, ou seja, o sujeito psicológico constituído de diferentes dimensões.

- Auto-conhecimento: conscientização dos próprios sentimentos e emoções para a construção da ética e da democracia escolar.

- Gestão escolar: necessita-se da mudança no caráter centralizador das instituições, para que exista diálogo e a busca coletiva de novos e melhores caminhos.

Em suma, todos esses aspectos buscam oferecer bases concretas para o desenvolvimento de escolas democráticas, aonde o aluno poderá desenvolver a sua autonomia através da construção do respeito mútuo e da cooperação.

# Que profesor você é?

Professor - escola A (pública)
"(...) em um ano de observações, jamais a vi alterando a voz ou tratando de maneira agressiva os estudantes; respeitava sua individualidade e suas diferenças; era sempre solícita diante de suas necessidades; adotava uma postura democrática por ocasião dos impasses e dilemas que ocorriam na sala de aula. Sua maturidade e calma eram marcantes no encaminhamento dos problemas, mantendo-se equilibrada emocionalmente, criando um ambiente cordial, alegre e respeitoso." (Ulisses F. Araújo)
Professor - escola B e C (pública e privada)

"(...) as crianças não tinham o direito de opinar e tudo o que acontecia na classe era determinado pela professora. O que predominava eram atitudes autoritárias e até mesmo agressivas por parte das professoras, que estabeleciam sanções punitivas quando o aluno se levantava da carteira, corria no corredor, não fazia determinada tarefa ou não cumpria o que lhe havia sido determinado. constantemente ouviam-se gritos exigindo silêncio e certos comportamentos. Todos os exercícios eram vistados e avaliados pelas professoras, por meio de conceitos de recompensa." (Ulisses F. Araújo)

# Vivência
Acredito que estava com os dois pés no estilo do professor das escolas B e C e teria "milhões" de motivos para justificar tais ações, mas quando comecei a repensar e praticar os conteúdos dissertados acima passei a caminhar para um outro tipo de docência.
O exemplo de hoje é um aluno de 6 anos do 1º ano do Ensino Fundamental, com "problemas" terríveis de comportamento (e porque não dizer de "enquadramento").
A criança aprontou de tudo, abaixou as calças, deu cadeirada e joelhada nos seus colegas, respondeu, xingou, cantou proibidão e muito mais. Todos os "corretivos" possíveis foram aplicados e nada surgia efeito. Comecei, então, a aplicar diálogos, nos quais jogava muitas perguntas, mas não dava as respostas; parei de cobrar coisas tão pequenas como: senta, não vai no banheiro, não pode correr, para de falar; e passei a pedir simplesmente que me tratasse como queria ser tratado.
Depois de 2 semanas ficamos mais próximos e as brigas estão diminuindo... agora eu pergunto quem era mesmo o problema?


# Bibliografia
Vídeo-aula 3: O juízo moral na criança
Vídeo-aula 4: A escola e a construção de valores
ARAÚJO, Ulisses F. O ambiente escolar cooperativo e a construção do juízo moral infantil: sete anos de estudo longitudinal. Rev. Online Bibl. Prof. Joel Martins, Campinas, SP, fev.2001.
ARAÚJO, Ulisses F. Escola, democracia e a construção de personalidades morais. Rev. Educação e Pesquisa (FEUSP), São Paulo, SP.

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